Robert Lustig é um médico americano da Universidade da Califórnia (San
Francisco, EUA), especialista em obesidade.
Recentemente, ele tem promovido uma
campanha para que haja leis restritivas de consumo de açúcar semelhantes às
existentes para o álcool e tabaco, o que limitaria especialmente o acesso das
crianças a produtos açucarados e para isso considerou
várias estratégias. Por exemplo, duplicar o preço dos refrigerantes, para
que as crianças não os pudessem pagar. Ter lojas de doces a fechar à
tarde, quando as crianças estão a sair da escola. Restringir a publicidade de alimentos com açúcar adicionado. Definir um limite de idade para refrigerantes, possivelmente 17, para que
as crianças mais jovens não podessem comprar latas de Coca-Cola.
Será que existe motivo para tanta preocupação?
O endocrinologista, que lançou um vídeo no Youtube no qual fala sobre o
assunto, cita como exemplo uma
série de doenças. Ele defende que o número de problemas de saúde como tensão
alta, doenças do coração e vícios alimentares eram muito menores há 30 anos, e
o responsável pelo salto nos índices foi o açúcar. Como exemplo, o médico cita a diabetes. Em 2011, havia 366 milhões de
diabéticos no mundo (o equivalente a 5% da população), mais do que o dobro em
1980.
Sabemos
disso porque, nos anos setenta, o mundo ocidental tinha um baixo teor de
gordura. Investigações médicas dizem ter descoberto uma ligação entre a
gordura na dieta e ataques cardíacos.
Como sabemos
agora, a situação é bastante complicada - algumas gorduras, nomeadamente
óleos ômega-3, são realmente bons para o coração. Ainda assim, nos anos
setenta, a indústria de alimentos cortavam na gordura. Tivemos iogurte desnatado,
baixo teor de gordura em refeições prontas, baixo teor de gordura em molhos, baixo
teor de gordura em tudo. O problema, segundo Lustig, "é que, se se
tirar a gordura, tudo isto fica com gosto de papelão. Tinha que se fazer alguma
coisa." E o que é que eles fizeram? "Eles acrescentaram carboidratos. E isso o que é? Xarope de milho com percentagens altas de frutose e sacarose."
Assim, à cerca
de 35 anos atrás, o mundo desenvolvido fez uma mudança radical na sua dieta.De lá para cá, fomos substituindo a gordura por açúcar. No Reino Unido, por
exemplo, os índices são alarmantes: desde 1990, o consumo de açúcar cresceu
35%. Entre as crianças, a ingestão de glicose representa 17% do total de
calorias diárias. Um facto
interessante é que ano, após ano, nós estamos a comprar menos sacos reais de
açúcar - "açúcar visível". Os grandes aumentos estão no "açúcar
invisível".
Vejamos algo mais concreto...
Por exemplo, existem sete colheres de açúcar numa lata de coca-cola.
Muita gente sabe disso. Mas você sabe que mais de 60% de uma bebida
Slimfast é feita de açúcar? Há
xarope de glucose-frutose em iogurtes biológicos, há frutose em barritas light, há açúcar em
pão normal, dextrose no pão integral, há açúcar no salmão defumado, há açúcar nas delicias do mar (marisco), existe
um queijo que é delicioso - graças à
frutose que se acrescentou, existem salsichas com açúcar... E daí por diante...
Como é que chegamos a esse ponto? A resposta do médico americano está nos produtos industrializados.
Nos
últimos anos, conforme ele explica, todos já sabem que açúcar em excesso pode
fazer mal. Por isso, substituímos o açucar pelo adoçante, por exemplo, e
tentamos cortar o açúcar dos alimentos que nós mesmos preparamos.
O problema é que o “açúcar invisível”, já embutido no alimento que vem da
fábrica, atinge uma quantidade cada vez maior de produtos. Se você vir o
rótulo dos produtos que pôs no carrinho do seu supermercado, vai descobrir
que existe açúcar em coisas que você nem imaginava.
Muitas pessoas engordam, por exemplo, porque o açúcar é um inibidor natural
da leptina, o hormônio através do qual o estômago diz ao corpo que “já está
bom, podes parar de comer”. Algo como um travão natural. Este e outros efeitos
nocivos indiretos à saúde por parte do açúcar também são objeto de estudo do
endocrinologista americano.
O caminho para a restrição de tais produtos, conforme o próprio Robert
Lustig afirma, é complicado. A indústria alimentícia resiste às tentativas de
baixar os índices de açúcar nos produtos por que acreditam – provavelmente com
razão – que o consumo vai cair significativamente se os alimentos nas formas em
que as pessoas estão acostumadas mudarem. A vontade de mudar, dessa forma, deve
partir em primeiro do consumidor.
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